UMA GEOGRAFIA DO EQUADOR: A ILHA DE SÃO TOMÉ DE FRANCISCO TENREIRO (1961)
Francisco Roque de Oliveira
Centro de Estudos Geográficos
Universidade de Lisboa
f.oliveira@campus.ul.pt
Xavier Muñoz i Torrent
Associação Caué – Amigos de São Tomé e Príncipe
asscaue@saotomeprincipe.eu
Em 1961, o geógrafo Francisco Tenreiro (1921-1963) publicou na colecção “Memórias” da Junta de Investigações do Ultramar a dissertação de doutoramento em Geografia que apresentara nesse mesmo ano à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: A Ilha de São Tomé (Estudo Geográfico). Incontestavelmente a mais importante obra da sua breve mas intensa carreira académica, este trabalho representou a quarta monografia de uma ilha atlântica produzida pela escola de Geografia de Lisboa e a primeira que esta mesma escola dedicou a um território insular africano de clima equatorial. Tendo presente a originalidade do percurso científico de Tenreiro – o mais sociológico dos geógrafos portugueses da sua geração – analisamos aqui o modo como este facto se manifesta na estrutura e no conteúdo de uma obra coerente com as preocupações da análise e da descrição regionais inauguradas na transição do século XIX para o século XX pela Geografia Humana clássica de matriz vidaliana. Simultaneamente, indagamos as práticas institucionais que favoreceram a sua elaboração, num contexto marcado pela omnipresença das preocupações africanas na investigação científica colonial portuguesa. A identificação do lugar específico que esta obra ocupa no “largo horizonte das curiosidades tropicais” da discreta Geografia portuguesa da época, conduzir-nos-á a um inquérito paralelo à Geografia colonial francesa e espanhola, os dois âmbitos europeus de produção científica que mais vínculos teceram com a Geografia praticada em Lisboa no momento em que Tenreiro descreveu a fisionomia de São Tomé. Como último ponto de inquérito, avaliamos as possibilidades e os limites da recuperação para um contexto contemporâneo da natureza, da metodologia e dos objectivos do exercício de Geografia regional legado por Tenreiro.
Keywords: São Tomé, Francisco Tenreiro, Geografia tropical, Geografia regional, Escola de Geografia de Lisboa
Biography note:
Francisco Roque de Oliveira é licenciado em Geografia e Planeamento Regional e Local pela Universidade de Lisboa (UL) e doutorado em Geografia Humana pela Universitat Autònoma de Barcelona. É Professor Auxiliar do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da UL, Investigador Integrado do Centro de Estudos Geográficos da UL e Investigador Associado do Centro de História de Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa e Universidade dos Açores. As suas publicações mais recentes são dedicadas a temas de cartografia histórica, urbanismo colonial português, história do pensamento geográfico e bibliografia histórico-geográfica europeia sobre Macau e a China Ming e Qing.
Xavier Muñoz i Torrent é licenciado em Geografia pela Universitat de Barcelona e mestre em Gestão Pública pela Universitat Autònoma de Barcelona. É director do Observatori Econòmic i Social i de la Sostenibilitat de Terrassa (Catalunha) e presidente-fundador da Associação Caué – Amigos de São Tomé e Príncipe (Barcelona). É autor de vários estudos e relatórios socioeconómicos e de planeamento estratégico sobre Terrassa, coordenador do Anuario Estadístico e do Informe de Conjuntura da mesma cidade, além de especialista em políticas europeias de cooperação transfronteiriça. Colabora com a imprensa são-tomense em questões de desenvolvimento endógeno e ordenamento territorial e urbano das ilhas.