MISSÕES GEODÉSICAS EM S. TOMÉ E PRÍNCIPE

 

Paula Cristina Cunha Santos
Centro de GeoInformação para o Desenvolvimento
Instituto de Investigação Científica Tropical

paula.santos@iict.pt

Após alguns trabalhos preliminares efectuados em 1915 pelo Governo Central sob proposta do então capitão dos portos, tenente da armada Álvaro Martha, o Conselho de Administração dos Portos e Viação aprovou por unanimidade o projecto de se proceder a trabalhos geodésicos, hidrográficos e topográficos nas ilhas de S. Tomé e Príncipe. Para a realização dos trabalhos geodésicos e topográficos foi criada uma missão geodésica cuja direcção foi entregue ao capitão de mar e guerra, Gago Coutinho. Na Ilha do Príncipe estes trabalhos tiveram lugar uma década mais tarde e foram realizados pela Missão Geo-Hidrográfica de S. Tomé e Príncipe. Criada por iniciativa do governador, primeiro tenente da marinha José Duarte Junqueira Rato, a Missão foi chefiada pelo capitão tenente João Augusto Capelo sob a direcção técnica da Comissão de Cartografia.

A cobertura geodésica da Ilha de S. Tomé é composta por triangulações de 1ª e 2ª ordens integrando os ilhéus, Rolas, Sete Pedras e Cobras, e uma rede de poligonais percorrendo as estradas principais. Na Ilha do Príncipe, a malha geodésica compõe-se de uma triangulação principal e, apoiada nesta, uma secundária, destinada a cobrir a parte norte da ilha. Fizeram-se observações astronómicas para a determinação da latitude em seis pontos da ilha, escolhidos de maneira a apresentarem uma média, tanto quanto era possível prever, liberta da forte irregularidade da vertical. A determinação da latitude no ilhéu das Rolas, mostrou que o equador passa lá e não entre ele e a ilha de S. Tomé, como até aí se julgara.

Enquanto se desenrolavam os trabalhos geodésicos, recolheram-se os elementos cartográficos para a publicação da carta. A escala adoptada para o levantamento foi de 1/25000. As cartas de S. Tomé e da Ilha do Príncipe foram publicadas em 1921, pela Comissão de Cartografia, nas escalas 1/50000 e 1/30000 respectivamente.

Nos anos sessenta foram ainda publicadas para S. Tomé cinco folhas na escala 1/25000 e, por redução desta série, uma folha na escala 1/75000, e para a Ilha do Príncipe duas folhas na escala 1/25000. Para o apoio geodésico foram aproveitadas as triangulações estabelecidas por estas duas Missões. O apoio cartográfico foi efectuado pela Missão Hidrográfica de Angola e S. Tomé que, de 1954 a 1958 e em 1960 se ocupou do respectivo levantamento. Foram ainda utilizados os elementos obtidos por estereorestituição da fotografia aérea realizada pela empresa Artop em vôos efectuados em 1955.

Nesta comunicação apresentam-se os trabalhos geodésicos realizados por Gago Coutinho, para a elaboração da carta da Ilha de S. Tomé, que o próprio condensou num relatório, considerado o mais completo trabalho de geodesia sobre os países ultramarinos outrora sob administração portuguesa, e os realizados sob sua orientação para a elaboração da carta da Ilha do Príncipe.

Keywords: Geodesia, Cartografia, Gago Coutinho

Biography note: Paula Cristina Cunha Santos é Investigadora Auxiliar no Instituto de Investigação Científica Tropical. A sua actividade desenvolve-se na área da engenharia geográfica, em particular, sobre aplicações geodésicas nos países da CPLP: análise das redes geodésicas aí estabelecidas, utilização dos Sistemas de Posicionamento e Navegação por Satélite no reforço e actualização dessas estruturas geodésicas, demarcação de fronteiras, monitorização de zonas de risco de catástrofes naturais e controle de estruturas, Sistemas de Informação Geográfica. Paralelamente, tem integrado diversos projectos interdisciplinares relacionados com a História da Comissão de Cartografia, Missões Geográficas e de delimitação de fronteiras, metodologias e instrumentos utilizados nos trabalhos de campo.